30 setembro 2010

Nem sempre o que é chato me aborrece

Esta noite, pûs os pés fora de casa.
Conversas de café semanais seguidas de uma direcção mais reservada, como quem procura na música razão para estar calado ou falar de perto.
Está escuro e vazio. A pista seca de gente é campo revolvido e deserto pelo arado de umas colunas inadaptadas ao som. Pelo meio de uns beats de um dj com delay londrino, a música pôs-me no quarto de uma rapariga.
Uma namorada qualquer, sem cara mas com Mac, a abrir o iTunes ou o VLC. Esta é a única luz do compartimento. Depois de seleccionadas as faixas, a menina deita-se de barriga para cima, de preferência com ar de tédio embora consigamos perceber que ela, no seu desinteresse geral, está a pensar nele e inquieta-se, entristece, ergue o telemóvel, olha-o, abandona a mão à gravidade e ressalta o punho no colchão. Tem o estômago mais quente que o costume. Pressente-se que se se mantiver o estado das coisas, a menina ainda pega numa úlcera e leva-a com ela vida fora. A pergunta que ela expõe a si mesma deve rondar um nebuloso "mas porquê?!". Muda a faixa, ela rebola e põe-se sobre o lado direito da sua juventude. Não se é muito exigente com a dimensão dos problemas naquela idade e tudo toma uma proporção indevida, embora saibamos que de geometria e composição ela perceberá apenas daqui a dez anos.
"Este é um momento de contrição musical", citando-me, e desisti de assistir ao set porque não me apeteceu ser deprechique mas gosto de especular sobre a intimidade das escolhas.

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